A
NATUREZA DA UNIÃO SAGRADA
Julie Redstone
Maio de 2011
Deus no centro
Ainda hoje, quando os casais se unem e se separam a
um grau que parece extraordinário, o casamento ainda
é destinado a ser um sacramento entre duas pessoas
que se amam. A qualidade eterna da consagração à
Deus permeia uma união verdadeiramente sagrada,
contrariando eternamente as atuais correntes da
cultura popular que torna o divórcio um resultado
fácil, embora não doloroso, em muitos casos.
Quando os votos do casamento se tornam
secularizados, como em muitos casos, quando Deus não
está incluído na aliança do casamento e em seu
propósito, então o casamento não é mais sagrado. Ele
se torna um veículo com o qual avalia a felicidade
pessoal, e se e quando esta felicidade desaparece
diante da dificuldade, não é surpreendente que
muitos casamentos terminem.
O
que é consagrado é de origem e de intenção Divina.
Isto é o que significa a palavra “sagrado”. O que é
consagrado ou “sagrado”, não pode ser mudado pelas
tendências culturais, pelo tempo ou por crenças
individuais. Um sacramento participa do Eterno – da
ordem da Vida. Ele não pode ser alterado por lei ou
por decreto, ainda que a sua natureza sagrada possa
ser esquecida ou abusada. O matrimônio, como um
sacramento, reflete a intenção de Deus para
compartilhar as dádivas do amor e da alegria de amar
com os dois, que, através do seu amor, trará os
frutos de sua união ao mundo para o benefício do
mundo, bem como para si mesmos. Estes frutos incluem
ir muito além da geração de filhos. Eles são os
frutos da alma, as expressões da alma, trazendo em
maior manifestação o que é Divino a cada um dos
parceiros, fazendo com que cada um seja um reflexo
mais fiel do seu ser interior.
A
natureza sacramental do casamento o torna mais do
que uma ligação física, mais do que uma ligação
emocional. É, em seu significado mais profundo, um
laço espiritual, construído a partir da intensidade
do amor entre duas almas. Consagrar uma união é
trazer à concordância, não duas vontades, mas três –
a das duas almas envolvidas e a de Deus. Uma união
sagrada é uma aliança entre dois que se amam em Deus
e com Deus, cuja adesão se torna uma expressão do
desejo de cada um de amar e servir à Deus juntos.
Há
um aspecto do serviço que nos é mais familiar que
cresce organicamente a partir do amor. Isto envolve
o desejo de trazer filhos ao mundo – uma ação que é
verdadeiramente benéfica ao mundo e à Vida e que
muitas pessoas reconhecem como tal. Há outro aspecto
do serviço que é menos aparente, que requer mais
consciência e intenção deliberada para cumprir.
Neste tipo de serviço precisa haver uma disposição
da parte de cada parceiro para expressar o Divino
interiormente e viver cada dia a partir deste espaço
sagrado. Tal serviço é manifestado no sentimento de
devoção com o parceiro de alma, acompanhado por um
desejo de auxiliar esta alma em sua expressão. Ele
também se manifesta na maior área de escolhas da
vida, através dos valores e atividades que a alma
escolhe de comum acordo com a intenção e a vontade
Divina.
Em
uma união sagrada de almas, o objetivo de servir a
alma do parceiro e o objetivo de cumprir o próprio
propósito Divino são mantidos nos espaços mais
profundo do coração e existem em harmonia. Em casos
onde estes dois parecem estar em conflito, é algumas
vezes porque em um caso ou no outro, não é a alma
que está tendo a sua expressão quanto a que atitude
tomar ou qual valor manter, mas a voz do eu exterior
ou da personalidade que está se expressando. A
reflexão profunda é frequentemente necessária para
distinguir entre as duas. Nos casais e também nos
indivíduos, isto envolve um processo de aprendizagem
ao longo do tempo, através da prece e da meditação.
A distinção entre “alma” e “personalidade” pode se
tornar clara para nós, embora possa ser difícil de
se imaginar em um primeiro momento, desde que não
estamos acostumados a pensar em tais termos.
Entretanto, há uma diferença. Viver como Deus quer
que vivamos é viver a vida da alma. É em direção a
isto que estamos avançando enquanto evoluímos, é
isto que devemos alcançar, pois isto representa o
ideal.
Incorporados como estamos atualmente em nossa
identificação com a personalidade, ou com o eu
exterior e não com a alma, e em nossa identificação
com a família nuclear, e não com a família
planetária, podemos não compreender que somente o
que serve ao bem maior, o que serve à Deus e à
própria Vida, pode dar ao amor a sua mais plena
expressão. Uma união que serve somente ao bem dos
dois, embora ainda um tributo à beleza e à maravilha
do amor, não pode revelar a totalidade do que deve
ser um relacionamento sagrado. Esta compreensão da
revelação da natureza da nossa alma e da natureza da
alma dos outros, está ainda por vir.
Retornemos ao início, no momento em que as almas se
encontram e se apaixonam. Há uma razão pela qual as
almas se unam no amor. A sua atração e o seu amor
pelo outro lhes permite experienciar um dos grandes
mistérios da vida e uma de suas maiores alegrias. A
alegria e o amor de dois seres que se encontram são,
no início, parte de um movimento da consciência, da
visão interna e do reconhecimento do Amado na outra
pessoa. A alegria com a qual o amor descobre a alma
do Amado é uma experiência fundamental na vida. Ela
nos revela não somente os nossos verdadeiros eus,
mas também o nosso propósito de estarmos no mundo. É
estar amando profundamente que cria esta sensação de
propósito. Isto nos diz através de nossos
sentimentos que estamos plenamente vivos quando
amamos intensamente e com todo o nosso coração. Não
estamos menos vivos quando não amamos.
O
Amor que forma o alicerce de uma união sagrada é
profundo assim. Ele procura dar de si mesmo além dos
limites. Busca se estender em todas as direções,
promovendo a expressão do Divino, intensificando as
qualidades Divinas de cada parceiro, de modo que
eles se tornem mais completos em sua expressão no
mundo. Através de tal relacionamento, dois
indivíduos se tornam algo para o outro e para o
mundo, que nenhum deles poderia ter se tornado tão
pleno por si mesmo. Esta então, é a natureza de uma
parceria espiritual: intensificar o Divino em cada
parceiro; auxiliar na revelação de cada alma para si
mesmo e para o mundo; trazer ao mundo, seja através
da ação, ou mais tranquilamente, através de um modo
de ser, valores sagrados, valores que se estendem
exteriormente e refletem a bondade de Deus e da
Vida.
Há
muitos casais, cujas dificuldades emocionais um com
o outro, tornam a parceria espiritual de uma união
sagrada difícil de atingir ou manter. Isto não
significa que eles não estejam participando de uma
união sagrada. Algumas vezes, tal relacionamento
pode estar presente por algum tempo e submerso pelas
dificuldades kármicas pelo resto do tempo. No
entanto, a fim de que uma união sagrada permaneça
sagrada, os dois indivíduos devem ser capazes, como
uma base, de se elevarem ao nível da alma. Eles
devem se esforçar por fazer isto, até quando surgem
situações que tornam a vida difícil. É somente deste
modo que o propósito verdadeiramente santificado da
união pode se manifestar.
Se
uma pessoa em um casal for capaz de fazer isto e a
outra não, pode haver grande desapontamento e dor
entre os dois parceiros. Tal diferença pode não ter
sido aparente no momento da época do namoro, ou do
encontro, pois é frequentemente o caso em que se
apaixonam, que se vê a alma do outro claramente, e
por causa disto parece que todas as limitações podem
ser alteradas através do amor. Que esta revelação
não continue do mesmo modo através dos anos, é uma
função da necessidade básica para a cura pessoal. É
um reflexo da presença de correntes sutis da
personalidade, que não estão em harmonia com o
resto, que devem ser observadas. Estas correntes da
personalidade estão, na maior parte, no fundo,
quando dois seres que se amam se encontram. Elas
entram em primeiro plano e se colocam em movimento
enquanto a vida evolui, de modo que elas possam ser
curadas.
O
processo de cura a que dois parceiros se comprometem
juntos é também um processo sagrado, mas de um modo
diferente do que está sendo chamado de uma união
“sacramental”. Desde que cada indivíduo é uma alma,
e cada alma encarna a fim de evoluir e aprender, a
cura mútua realizada pelas almas como parte do seu
amor, é, certamente, um relacionamento da alma,
geralmente concordada antes de vir à encarnação.
Entretanto, uma união principalmente Karmica, por
causa das complicações emocionais que ela tende a se
prestar, é diferente do que a expressão viva de um
sacramento. Em uma união Karmica, frequentemente são
emoções negativas que são manifestadas entre os dois
parceiros. Estas podem gerar atritos e discórdia
contínuos, com pouco da alma de cada participante à
vista. Em uma união sacramental, são principalmente
as qualidades positivas da alma, as qualidades
interiores do ser, que buscam e procuram se
expressar dentro e através do relacionamento.
Hoje, na maior parte do tempo, o casamento é uma
associação dos dois. É deste modo que manifestamos a
nossa necessidade para a cura e a evolução como
almas. Em circunstâncias ideais, quando duas almas
passam conscientemente por um processo de
purificação individualmente e juntos, as correntes
não curadas da personalidade se manifestam de um
modo que possam ser observadas, contidas e
trabalhadas, e não expressas em ação. A purificação,
com a sua ênfase na prece e na consciência, requer
muita maturidade espiritual e emocional, bem como um
senso de responsabilidade a fim de que ela seja
verdadeira. Isto é especialmente necessário quando
as correntes da personalidade surgem e tiram a
expressão da alma do casal. A prece e a reflexão são
necessárias nestes momentos. A discussão é
necessária. A comunicação é necessária. O objetivo
mútuo de elevar a união ao nível mais elevado deve
ser mantido pelos dois parceiros, com o trabalho em
direção à parte final da manutenção diária do
relacionamento. É frequentemente nos detalhes da
vida e na qualidade da atenção com que são
compreendidos, que pode ocorrer a maior
aprendizagem.
Algumas vezes é difícil ser atencioso. É difícil ser
consciente. Um está cansado, sentindo-se mal em
relação a alguma coisa, e usa isto como razões para
não estar consciente. Então, é mais provável que
partes não curadas da psique não sejam observadas,
notadas ou contidas – que eles agirão inúmeras vezes
a um grande custo para o relacionamento. Tais
padrões são certamente, caros. Eles envolvem um
tempo e esforço preciosos, ficando desgastados,
tentando re-estabilizar um relacionamento, seguido a
cada evento discordante que perturba a harmonia e o
fluxo.
O
processo de purificação pode ser de grande ajuda aos
casais se eles o compartilharem juntos. Então, ambos
podem estar conscientes dos padrões que eles mantêm
e podem se ajudar a encontrar meios alternativos de
lidar com estes padrões. A prece e a devoção à Deus
são partes essenciais da purificação, e assim não é
uma questão de apenas pensar em alternativas
psicológicas como os principais meios para a cura,
mas de invocar o Eu Superior para ajudar com o eu
inferior e Deus para ajudar com tudo. A devoção à
Deus e um desejo de elevar a personalidade para o Eu
Superior é necessário em ambos os parceiros em uma
união sagrada. Esta intenção é finalmente a chave
que liberará ambos da imersão nas questões karmicas
do passado.
Infelizmente, acontece algumas vezes que um parceiro
em uma união é menos consciente do que o outro, e
parece querer permanecer menos consciente. Ele pode
ter um medo de se tornar mais “desperto”, de assumir
mais responsabilidade por si, ou de se defrontar com
as suas fraquezas e inadequações pessoais. Quando é
este o caso, pode resultar um desequilíbrio, com um
parceiro se tornando mais responsável pela
consciência e autoconsciência, e o outro
permanecendo mais passivo. Este desequilíbrio pode
ser viável, e, de fato, pode promover a aprendizagem
no parceiro menos consciente, se ele for compassivo
e houver gratidão pela aprendizagem oferecida. Mas
se for um grave desequilíbrio, e a maior parte da
responsabilidade pela consciência for realizada por
uma pessoa, ao invés de por ambos os parceiros,
então a discórdia e o atrito serão os resultados,
com o desapontamento sentido pelo que seja mais
responsável, e os sentimentos de ser acusado,
criticado, ou diminuído, sentido pelo que seja menos
consciente.
A
importância da escolha de um parceiro na plenitude
de compreender quem é o outro, tanto em sua beleza,
quanto em sua falta de integridade, se torna
aparente enquanto o tempo passa e as dificuldades
surgem – dificuldades que não eram vistas ou foram
subestimadas no início do relacionamento. Então, o
compromisso das duas almas com a verdade de quem
elas são um com o outro, pode ser duramente testado.
Se
os parceiros em uma união não estiverem funcionando
a um nível de alma, ou não estiverem interessados em
elevar o seu relacionamento a este nível, as
dificuldades que ocorrem, que estão baseadas em
partes não curadas de uma personalidade ou da outra
parecerão grandes, causando dúvidas e confusão no
relacionamento de uma forma contínua. Se os
parceiros pudessem estar com o outro e com Deus e
pudessem santificar a sua união, sabendo realmente
que eles estavam criando o compromisso mais profundo
com o outro – se eles fossem capazes de assumir a
sério este compromisso, para permanecerem juntos, em
uma vida com Deus – então grande aprendizagem e
grande alegria poderiam ocorrer.
Tal
união formaria a área na qual ambas as almas
aprenderiam mais sobre elas mesmas e sobre o seu
relacionamento com Deus, do que elas poderiam ter
feito separadamente. Elas aprenderiam isto juntas,
desde que promoveriam esta aprendizagem no outro.
Isto não é muito comum hoje, entretanto. A maior
parte dos casais que se une, não se conhece em seu
ser Divino e não fazem o compromisso de serviço à
Deus, como parte de sua união. Eles também são
incapazes de levar a sério, ou de modo sacramental,
a profunda natureza de tal compromisso. Estas
uniões, que são mais seculares do que sagradas,
estão baseadas em nossa atual falta de consciência
em relação a nossa própria identidade. Isto
contribui com a tomada de decisão de se unirem a
partir de uma parte mais superficial do ser, ao
invés de uma parte mais profunda. Então, porque isto
é assim, não há frequentemente o firme alicerce da
verdade sobre o qual permanecerá quando as
dificuldades na vida surgirem e precisarem ser
tratadas ao longo do caminho.
Contanto que as pessoas estejam inconscientes sobre
a sua natureza mais elevada, contanto que elas não
ajam a partir da essência da sua alma, elas não
serão capazes de reconhecer esta essência da alma
nos outros e não serão capazes de julgar com quem
elas estão realmente se unindo. Elas assumirão a
pessoa que elas amam como o eu exterior, e se e
quando este eu exterior muda, ou não encontra as
expectativas que a promessa original do amor trouxe,
elas ficarão desapontadas.
A
alta taxa de divórcios na sociedade hoje reflete o
nosso nível de consciência sobre o que os
relacionamentos envolvem e como nos percebemos. Ela
reflete a nossa tendência de escolher a separação
quando as nossas expectativas frustradas se tornam
muito fortes. Reflete também a tendência histórica
em direção ao secular e distante do sagrado, e a sua
consequente alteração na percepção do que significa
o casamento.
A
estabilidade e a longevidade do casamento poderão
somente aumentar quando as decisões sobre o
casamento forem baseadas em uma compreensão mais
verdadeira da natureza sacramental de tal união, e
também em uma compreensão mais verdadeira de quem é
que se está casando. Até então, e até o propósito de
Deus se tornar o propósito de cada união no amor, na
confusão, na dor e na dificuldade em que muitos
casais se encontram, é provável que continue com o
divórcio permanecendo como a solução para o problema
da dor.
Entretanto, esta situação está mudando hoje. Os
corações estão se abrindo, e com isto uma maior
valorização do amor e da verdade está ocorrendo. Um
despertar mais profundo para os princípios
espirituais está surgindo. Quando acontece que duas
pessoas que se amam estão bem conscientes e sabem
que elas estão escolhendo se unir a fim de se amarem
do modo mais profundo possível, e através do seu
amor trazer algo precioso ao mundo, para o benefício
da Vida, então há motivos para celebração no céu e
os anjos se rejubilam com o triunfo do amor em toda
a sua pureza. Então, há a vitória para Deus e uma
bênção dada aos corações de todos que serão tocados
de forma única pelo amor entre os dois que estão se
unindo.
Uma
união sagrada deste tipo estende o amor bem além dos
limites que alguém possa imaginar. Ele cria um
envoltório ou atmosfera que está infundida pelo
amor, uma atmosfera na qual outros podem ser
convidados. É este envoltório que é uma dádiva para
outros que sejam reforçados por ele, quando as suas
vidas se cruzam com a pureza do amor, e os seus
corações se abrem para testemunhar uma união
sagrada, tornando-se possível dentro de si também.
http://www.lightomega.org/Ind/Pure/Sacred_Marriage.html
Tradução: Regina Drumond –
reginamadrumond@yahoo.com.br |