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A
CIÊNCIA TIBETANA DA MORTE
Estudo do Livro
dos Mortos Tibetano, o Bardo Thödol
O Bardo Thödol é uma obra
que fala da concepção budista-tibetana sobre o
post mortem. Foi escrito no século VII,
compilado por mestres budistas. Seu conteúdo,
porém, muito mais antigo, reúne crenças
tibetanas sobre o que acontece depois da morte
do corpo físico humano. Lama
Samdup (1868-1923), que traduziu o texto para o
inglês, definiu "Bardo" como "estado incerto",
referindo-se à situação intermediária da Mônada
ou espírito humano entre a vida biológica,
orgânica, que chegou ao fim e o período que
transcorre até o próximo renascimento. Os
tibetanos e budistas são, portanto,
reencarnacionistas, ou seja, acreditam na
reencarnação.
1. mundo dos Devas (anjos na
visão cristã);
De certa
forma, o Bardo Thödol é a ciência de que permite
ao espírito transcender a lei do carma pelo
entendimento do fenômeno da vida em sua
TOTALIDADE CONTÍNUA. Um entendimento que permite
superar a forte cadeia que prende o SER humano
[em todas as suas manifestações] a uma
existência de sofrimento: a cadeia formada pelo
binômio DESEJO-CULPA.
I. A
CLARA LUZ PRIMORDIAL
A
primeira confrontação [com o post mortem]
é a percepção da realidade metafísica ― "o
além". O espírito perde o contato orgânico com o
mundo terreno: já não ouve nem vê com os órgãos
dos sentidos posto que estes não funcionam mais.
Entretanto, será capaz de ver, ouvir, sentir
frio ou calor através dos
"olhos/ouvidos/tecidos" do corpo sutil (corpo do
espírito) já em processo de separação ou
completamente desligado do corpo físico.
II.
Chikhai
Bardo ― 2º Estágio
No post mortem as mudanças de estado [de consciência] se sucedem acompanhados da percepção de sons e imagens que chegam a ser aterradores; o turbilhão de visões dura "até que o carma nesta condição se esgote" ou o espírito consiga se manter tranqüilo diante do vê e ouve. O segundo estágio do Chikhai Bardo pode durar muitos dias terrenos. Neste segundo estágio do Chikhai Bardo, tão logo o princípio consciente abandona o corpo "ele se pergunta: ― "Estarei morto ou não?" ― Enquanto isso, entre "os vivos" o rito funerário tibetano continua [os católicos cristãos tem seus próprios ritos o padre que encomenda a alma a Deus, as missas, de sétimo dia, de mês, etc.], auxiliando o morto na transição: "... o lama ou leitor [oficiante, sacerdote, irmão de fé etc.] faz uma prece para a Divindade Tutelar do morto. Essa Divindade é "deus", santo, anjo, orixá etc., dependendo da formação religiosa e cultural do defunto.
Medita, ó nobre filho sobre tua Divindade Protetora [DIZER O NOME DA DIVINDADE]. Não disperse teus pensamentos. Concentra teu espírito sobre teu Deus tutelar. Medita sobre Ele como se fosse o reflexo da lua sobre a água, visível, mas em si mesmo inexistente. Medita sobre ele como se tivesse um corpo físico. "Medita sobre o Grande Senhor da Compaixão". Durante este segundo estágio o CORPO permanece no estado de "corpo de ilusão brilhante" [p 68]. Se a meditação sobre a divindade tutelar funcionar, poderá libertar o mais miserável dos homens porque qualquer carma é "dissipado" ― cancelado, anulado ― pela consciência, identificação e completa entrega, não-resistência do self [do si mesmo] diante da Clara Luz Secundária.
III. CHÖNID BARDO: A EXPERIÊNCIA DA REALIDADE Se a Clara Luz Secundária não foi reconhecida, se o Espírito, com medo, rejeitou essa Luz ou fugiu dessa Luz, começa o terceiro estágio do Bardo. Neste estágio, a "realidade experimentada" é, na verdade, uma seqüência de ilusões cármicas, tormentos para o morto que lhes dá atenção, produzindo desequilíbrio, impedindo o SER de alcançar a perfeita iluminação [ou estado de Buda]. A essa altura, o defunto percebe que parte de sua refeição é descartada [contexto tibetano], suas vestimentas são despojadas de seu corpo... Consegue ouvir o pranto e a lamentação de seus afetos e familiares, podendo, sobretudo, vê-los e escutar o chamado deles, mas acaba se retirando, descontente, pois os vivos [não respondem; o bardo não consegue se comunicar com eles]... Nessa hora, sons, luzes e raios se manifestam, levando o morto ao receio, medo e terror e causando-lhe fadiga. [Entre os vivos, o oficiante continua seu trabalho de auxiliar o espírito recém desencarnado explicando]: Ó nobre filho, ouve atentamente sem distrair-se. Existem seis estados de Bardo, que são: O estado natural do Bardo durante a concepção; o Bardo do estado onírico; o Bardo do equilíbrio extático, na profunda meditação; o Bardo do momento da morte; o Bardo da experiência da Realidade; o Bardo do processo inverso da existência sangsárica... Ó nobre filho, o que se denomina como "morte" é chegado... Não te apegues mais a esta vida por fraqueza ou sentimentalismo... Não sejas fraco, não te apegues... Lembra-te da preciosa Trindade ... [p 71/72]
Aqui, mais uma vez, aparece a semelhança de doutrina religiosa entre o cristianismo católico e o budismo, com essa referência à natureza simultaneamente una e trina da "divindade", do criador original de todas as coisas. Durante o Chönid Bardo os sons e as luzes percebidos bem como as figuras de Budas e seus séqüitos que o livro descreve são ilusões nascidas das preocupações e temores do Espírito. Estas ilusões são chamadas formas-pensamento. Ao longo da vida todas as pessoas produzem tais formas pensamento. São idéias fixas, pensamentos recorrentes (que se repetem muito) sobre medos e anseios [e também sobre afetos e coisas boas-agradáveis, formas-pensamento positivas]. Dizem os ocultistas que os homens vivem cercados destas entidades que habitam o plano mental, imperceptíveis durante a vigília normal, às vezes, perceptíveis no estado de sono (estado onírico do Bardo). No Chönid Bardo, o espírito, que agora existe somente no plano mental de realidade (SER MENTAL) vê perfeitamente estas entidades sem perceber que elas nascem de seus próprios pensamentos, apegos, emoções. [O homem encarnado comum também pode ser assombrado por suas próprias formas-pensamento sem jamais perceber que ele mesmo cria estes fantasmas ― meditemos...] Sente medo, entra em pânico porque as formas refletem o terror, o amor angustiado e/ou possessivo, a autopiedade, o ódio, a culpa, etc.. O morto, preocupado com as "coisas dos vivos" faz com que os pensamentos se materializem personificando as emoções. O próprio corpo do Bardo, na verdade, é um corpo-pensamento. Se o medo e/ou toda e qualquer forma de inquietação prevalecem começa, então, a jornada pelo sangsara que dura cerca de 14 dias terrenos. São 14 de chances de reconhecer a Clara Luz e escapar do ciclo cármico. Os tibetanos representam essas formas-pensamento em figuras de divindades Pacíficas e divindades Irritadas que, conforme a cultura tibetana (e também hindu, anteriores ao budismo de Sakyamuni) são Budas acompanhados de seus séqüitos. Os Budas representam diferentes pensamentos, que se traduzem em DESAPEGO, e sua simbologia inclui também a identificação com determinadas cores e elementos da natureza (água, fogo, terra, ar, éter). Enquanto as cores e elementos são valores de significação universal, os Budas são expressões da cultura oriental hindu-tibetana, o que significa que as visões mudam em função da cultura humana vivenciada pelo Bardo [Espírito]. Por isso, um ocidental verá Jesus, um muçulmano, anjos de Alá, um xintoísta japonês verá seus ancestrais, um outro alguém verá seu pai e mãe, seu santo padroeiro, seu orixá e assim por diante, entre as divindades pacíficas. As divindades irritadas tibetanas são as mesmas pacíficas revestidas de aspectos amedrontadores, como crânios humanos cheios de sangue, seres portando adagas, legiões que gritam "mata, mata"... No Ocidente, os pensamentos negativos, os medos, as culpas, surgem como demônios, monstros, abismos etc..; e isso, é o inferno [lato sensu]! Tais experiências, ora sedutoras, ora aterradoras, que acontecem durante o Chönid Bardo, são todas marcadas por luzes de cores diferentes. Conhecer bem o significado deste código luminoso e cromático é fundamental para que se tenha uma chance de alcançar a libertação ou, ao menos, um renascimento em circunstâncias mais favoráveis. Nas alegorias do Bardo Thödol, a personagem central das visões são Budas cercados de seres fantásticos que deixam entrever muito bem, para um tibetano, o modo como o post mortem é determinado pelas idéias e estado de espírito que uma pessoa cultiva durante a vida terrena. Na tabela abaixo estão relacionados estes Budas e suas respectivas correlações:
Durante todo o Bardo o Espírito é CONFRONTADO com os Budas Luminosos. O Livro insiste muito nesse termo: CONFRONTAÇÃO. Significa que O SER ver-se-á diante de situações de escolha. Deverá escolher entre modos de EXISTÊNCIA que são indicados por luzes de diferentes cores. São sete opções mas somente um destes modos de SER é isento ― livre ― de carma e, por conseguinte, livre de SOFRIMENTO. É o estado de Buda, Iluminado. Somente alcançam a condição de Buda os espíritos que conseguem SER completamente livres de qualquer APEGO. Note-se que o DESAPEGO é o objetivo maior de todo Iniciado budista, está no âmago dos ensinamentos do budismo e é essência da doutrina cristã ["Tomam-lhe o manto? Entrega também a túnica... vende todos os teus bens e segue-me, etc."]
As Confrontações Nos sete primeiros dias do Chönid Bardo o Espírito é confrontado com entidades chamadas Pacíficas. Sete luzes muito radiantes, fortes, aparecem, uma a cada "dia" do Bardo ― radiações da Sabedoria; elas "brilham para o Bardo". São as luzes da "terras búdicas". Cada uma das sete luzes fortes é acompanhada por uma semelhante, porém, mais suave. [Eis a "emboscada"] As luzes radiantes produzem um forte impacto na percepção gerando sentimentos de desconforto e medo. As luzes suaves são reconfortantes. O Espírito do humano sentirá o desejo de se entregar às luzes suaves, que são as luzes dos SEIS LOKAS (mundos) INFERIORES, ou seja, mundos onde o modo de SER implica sofrimento. As luzes radiantes conduzem ao estado de Buda, de Libertação do carma. As luzes fracas são PORTAS para os Lokas inferiores e atraem todos aqueles que não conseguem se DESAPEGAR, psiquicamente, do carma. Embora os mundos inferiores sejam muito diferentes entre si, mesmo o mais elevado destes mundos, o Mundo dos Devas, DEVAKHAN é, ainda, uma prisão. Somente nas terras Búdicas o espírito alcança a liberdade de existir em pleno e verdadeiro desapego. O oficiante, o irmão de fé, dirá ao Espírito:
Saibas, nobre filho [nome do Espírito na Terra - Fulano] que, na medida em que brilham as radiações da Sabedoria, também brilham as luzes da impura ilusão dos seis Lokas. Que são elas? Deves perguntar. Elas são uma suave luz branca dos DEVAS, uma suave luz verde dos ASURAS, uma suave luz AMARELA dos SERES HUMANOS, uma suave luz AZUL dos BRUTOS, uma suave luz AVERMELHADA dos PRETAS, uma suave luz CINZA-ESFUMAÇADA dos INFERNO DOS RAKSASHAS... Deves permanecer no REPOUSO da NÃO FORMAÇÃO DE PENSAMENTO... Não te sintas assustado nem te permitas atrair por nenhuma delas. Caso te deixes assustar pelas radiações da Sabedoria ou se te permitires atrair pelos brilhos impuros dos seis Lokas, deverás tomar um corpo num dos seis Lokas e sofrer as dores dos Sangasaras. [p 85]
Segundo o Bardo Thödol existem seis tipos de seres: cinco animados (vivos) e dois brutos (mudos e imobilizados), os vegetais e os minerais. Todos são considerados formas de ser inferiores porque estão sujeitos ao sofrimento. Todo o ensinamento do livro tem como objetivo preparar os seres humanos para o momento decisivo em que deverão escolher entre dois caminhos: a libertação como Buda ou a escravidão, a prisão, seja como 1. DEVA ― 2. ASURA ― 3. HUMANO ― 4. PRETA ― 5. RAKSASHA ou ― 6. BRUTO. As advertências são insistentes:
1° DIA ― Não te permitas seduzir pela luz suave e branca dos Devas. Não te apegues, não sejas fraco. Se a ela te apegares, andarás sem rumo pelas moradas dos Devas e serás lançado no turbilhão dos seis lokas... Não fites essa luz. Olha somente à luz branca-radiante com fé profunda, concentrando ardentemente seu pensamento em Vairochana [ou Jesus, ou Khirsna, etc..] ... [p 75] 2° DIA ― Vinda do inferno, uma luz cinzenta e esfumaçada surgirá... por força da cólera, ficarás surpreso e amedrontado pela luz [radiante do Buda] e quererás afugentar-te; a suave luz cinzenta do inferno [dos rakshasas] irá atrair-te... Não te sintas enlevado pela luz do inferno, cinzenta e esfumaçada. Este caminho foi aberto pelo mau carma da cólera... Se segues essa atração luminosa, cairás nos mundos infernais, onde terás de suportar uma grande miséria, sem que haja um tempo certo para tu saíres de lá. [p 76] 3º DIA ― Não te permitas seduzir pela suave luz amarela do mundo humano, a qual representa o caminho aberto pelo acúmulo de tuas inclinações e de teu agressivo egoísmo. Se fores atraído, renascerás no mundo humano, tendo de sofrer o nascimento, a senilidade, a doença e a morte. [p 77] 4º DIA ― Não te deixes seduzir... pela luz suave e avermelhada vinda de Preta-Loka... Livra-te do apego e da fraqueza. Neste momento, pela forço intensa gerada pelo apego às coisas do mundo, a luz avermelhada BRILHANTE irá terrificá-lo e deverás desviar-se dela, pois será forte a tração da suave luminosidade avermelhada do Preta-Loka... Esta luz é formada pela soma de teus sentimentos de apego ao Sangsara que se manifesta em ti. Permanecendo apegado, cairás num mundo de espíritos infelizes e sofrerás uma fome e uma sede intoleráveis. [p 79] 5º DIA ― Não se permita atrair pela luz suave verde-escuro do Asura-Loka. Este é o carma adquirido pelo ciúme intenso... Se te permitires atrair por ela, irás afundar no Asura-Loka, onde terás de suportar a intolerável miséria das querelas e dos estados de guerra. [p 81] 6° DIA ― ...Na medida em que brilham as radiações da Sabedoria, também brilham as luzes impuras dos seis Lokas ... [No sexto dia, brilham juntas]. [p 85] 7º DIA ― Uma delicada luz azul, vinda do mundo dos brutos aparecerá... Não te deixes atrair pelo suave brilho azul do mundo bruto; sejas forte. Se fores atraído cairás no mundo bruto, dominado pela estupidez, e sofrerás as misérias sem limites da escravidão, da mudez e da imbecilidade. Passará muito tempo nessa condição... [p 90]
Divindades Irritadas Depois das visões das divindades pacíficas, se o Espírito não reconheceu as luzes, os seres, os sons e outras percepções como projeções de seus próprios pensamentos e emoções, isso significa que a ignorância e o medo estão dominando o Bardo que, aterrorizado e muito confuso vai experimentar a "aurora das divindades irritadas". As Divindade Irritadas são as mesmas Pacíficas revestidas de atributos tão horrendos e macabros quanto a enormidade do medo sentido pelo Espírito. As visões desta fase podem durar por mais sete dias terrenos. Para a cultura tibetana, neste período podem surgir até 58 divindades que são chamadas "bebedoras de sangue". Imediatamente após terem cessado as aparições das Divindades Pacíficas [que eram sete emboscadas]... surgirão outras 58 divindades rodeadas de chamas, irritadas e bebedoras de sangue. Na realidade são Divindades Pacíficas com novo aspecto... Trata-se do Bardo das Divindades Irritadas, cujo reconhecimento é mais difícil por serem influenciadas por sentimentos de medo, de terror e de receio... Fugindo por medo, terror... as pessoas ordinárias caem pelos precipícios, nos mundos infelizes e sofrem. [p 91] A experiência da realidade com as Divindades Irritadas é um filme de terror. Para os tibetanos esse é o inferno possível no post mortem [situação infernal ou Inferno podem ocorrer em vida terrena também]. Nesta fase o espírito está sujeito a sofrimentos indescritíveis [proporcionais a seus medos, culpas e agonias]. No entanto, por mais reais que os piores acontecimentos possam parecer, são todos ilusórios; não haverá nenhum dano real à estrutura física [ou melhor dizendo, metafísica] do "corpo radiante". A "aurora" das divindades irritadas assemelha-se a um longo pesadelo durante o qual pode-se ter a nítida impressão de morte e aniquilamento [possivelmente trata-se de uma "segunda morte", a morte dos apegos às coisas da vida passada]. Isso ocorre nos dois últimos "dias" dos 14 dias de duração média do Chönid Bardo. Não reconhecendo o defunto as próprias formas-pensamento, as formas do Darma-Raja, o Senhor da Morte, brilharão sobre o Chönid Bardo [em ponto e direção acima do "ser de percepção". Note-se que o Senhor da Morte tem múltiplos corpos]... Morderão o lábio inferior, os olhos vítreos... gritando: "bate, mata"!, lambendo um crânio humano, bebendo sangue, arrancando corações. Quando tais pensamentos se manifestarem, não te assustes nem aterrorizes... Sendo que possuis um corpo mental de tendências cármicas, mesmo golpeado, cortado em pedaços, não poderás morrer. Pois teu corpo é, na Realidade, da natureza do vazio. Nada tens a temer. Os corpos do Senhor da Morte são também emanações, radiações de tua [dele mesmo, Espírito] inteligência; não são constituídos de matéria [densa, pesada, terrena]; o vazio não pode ferir o vazio... Sabendo disso, todo medo e terror dissipam-se sozinhos e, fundindo-se no estado instantâneo [não formação de pensamento], obtém-se o estado de Buda. [p 101]
O Livro Tibetano dos Mortos adverte, com insistência, que mesmo nas circunstâncias mais sangrentas, o Espírito deve lembrar-se que os horrores vivenciados, apresentados à sua percepção, são ilusões geradas por ele mesmo, pelo seu SER VERDADEIRO, que é feito de energia mental. No 14º dia do Chönid Bardo, não tendo se tranqüilizado e não reconhecendo suas próprias formas pensamento, o Espírito verá O Senhor da Morte Darma-Raja, com seus inumeráveis corpos. Em todas as fases do Chönid Bardo existe a possibilidade de Libertação. Para isso basta que o Espírito RECONHEÇA as visões como suas próprias projeções mentais e com isso possa dissipar o pânico estabelecendo um estado de calma impassível. Essa indiferença diante do agradável e do desagradável, igualmente, é a mais importante conquista, e "lição número 1", tanto dos Iniciados iogues e budistas quanto dos ocultistas ocidentais. O auto-controle e a tranqüilidade são a chave da Libertação; estes atributos somente podem ser alcançados se a pessoa tem consciência do caráter ilusório das percepções, dos sons, das visões: "Lembrar-se disso neste momento é obter o estado de Buda" [p 100]. Lembrar-se dos ensinamentos do Bardo, então, será o suficiente para que o Espírito escape ao condicionamento do carma. É necessário, portanto, o mínimo de instrução religiosa para "morrer bem". O poder da fé é enfatizado no texto e a interferência de um Ser supremo e realmente divino pode ser o bastante para libertar o Espírito. Semelhante à doutrina cristã, a doutrina do Bardo afirma a onipotência de uma "divindade tutelar", chamada de "preciosa Trindade", Senhor da Compaixão e, ainda, "o Compadecido", remetendo o leitor ocidental, mais uma vez, à figura de Jesus Cristo, como pessoa da Santíssima Trindade que é o Deus Criador, posto que é Um e Três na coexistência mística, na ontologia complexa do SER Pai, Filho e Espírito Santo.
Ai de mim! Eis-me errando no Bardo [neste
estado intermediário],
Om-ma-ni-Pad-me-Hum ― é chamado "mantra essência" ou mantra de Chenrazi, o Compadecido, divindade protetora do Tibete que, ali, tem o nome de Chenrazi [para o ocidental, é Jesus ou a Virgem Maria ou simplesmente Deus, assim como para os krisnaista é Krishna e para muitos budistas é o Buda Amitaba ou Sakiamuni. Segundo o Todol, o simples entoar mantra de Chenrazi, seja encarnado ou desencranado, extingue o ciclo de renascimentos e permite alcançar o Nirvana [estado de Buda]. Cada sílaba fecha uma porta que conduziria o Espírito a mundos inferiores.
OM: fecha a
porta dos renascimentos entre os deuses, Devas Quaisquer que sejam as praticas religiosas ou, ainda, o ateísmo dotado por um Ser, as ilusões perturbadoras sempre aparecem na hora da morte. Por isso, o Thödol é tido como indispensável: "É de particular importância o treinamento com este Bardo [doutrina], o que deve ser feito inclusive durante a vida." [p 103]
Os tibetanos não têm medo de se preparar para o momento da morte. Não é um assunto deixado para um "depois-nunca", como acontece no ocidente onde falar da morte é um comportamento inconveniente. O Espírito que estuda os fenômenos da agonia e do post mortem está mais apto a enfrentar as experiências tão inquietantes que podem acontecer nos últimos momentos de existência terrena de um ser humano.
Pelo sua natureza de "livro de instrução", praticamente um manual sobre como "morrer bem", o texto do Bardo Thödol é considerado como meio de "Libertação pelo Entendimento". "Mesmo os que cometeram as cinco ofensas capitais serão libertados... basta seguirem este ensinamento. * As cinco ofensas capitais são: 1. Parricídio ― 2. Matricídio ― 3. Provocar luta e disputa entre duas religiões ― 4. Matar um santo ― 5. Fazer correr o sangue de um Buda. [p 103] Passados os 14 "dias" do Chönid Bardo, não tendo o Espírito alcançado a impassibilidade, não conseguindo controlar o turbilhão de pensamentos e emoções, entrará em um outro estágio de SER denominado Sidpa Bardo no qual mergulhará profundamente na vivência do "mundo" após a morte.
IV. Sidpa Bardo O Chönid Bardo, além de aterrorizante, é uma experiência muito exaustiva. O Espírito que não reconheceu as visões de pesadelo como ilusões da mente, passa, necessariamente por uma seqüência de acontecimentos que minam suas forças e sua consciência. Entretanto, nada perdeu; ao contrário, o sofrimento consome todos os resquícios de matéria mental "impura", terrena, esgotando a capacidade de sentir culpas, medo e/ou desejos. Cansado, o Espírito sofre um desfalecimento: "desfaleces no medo". Quando recobra a consciência, o Ser Cognoscente (Ser conhecedor) percebe a si mesmo como um "corpo radioso". É o começo da jornada no Sidpa Bardo, situação que ainda possibilita algumas chances de Libertação do Carma. Se estas oportunidades também forem perdidas, as portas do Sangsara se abrem. O Espírito deverá buscar a melhor opção de reencarnação em um dos seis Lokas ou Mundos Inferiores. Neste ponto do post mortem o conhecimento do Thödol é fundamental para se saiba quando e como "fechar as portas" dos mundos mais infelizes, garantindo uma nova vida em uma das duas situações mais positivas: o mundo dos Devas e o Mundo Humano. O texto do Livro dos Mortos esclarece em minúcias as situações metafísicas que o espírito vai experimentar no Sidpa Bardo:
No momento em que experimentavas as radiações... no Chönid Bardo... desfalecestes no medo por um período de aproximadamente três dias e meio após tua morte [vê-se aqui que o Tempo em Bardo, estado intermediário, não tem correspondência com dias terrenos]... No instante em que retornas desse desfalecimento, o Cognoscente ergue-se em ti, em sua condição primordial, e um corpo radioso, assemelhando-se a teu corpo precedente [da última vida terrena], projeta-se... É conhecido como corpo do desejo... Não sigas as visões que te aparecem neste instante... Permita que seu [SER] repouse sem distrações na não-ação e no desprendimento... Agindo assim conseguirás a Libertação sem teres de passar novamente pelas portas matrizes... Se não reconheceres a ti mesmo, então, quaisquer que sejam sua Divindade Tutelar e seu Guru, concentra sobre eles [teu pensar]... Não te deixes distrair porque este momento é de grande importância... Este teu corpo atual... não é um corpo de matéria grosseira... Tens o poder de passar através das massas rochosas... Essa condição deve servir para ti como uma indicação de que erras pelo Sidpa Bardo. Lembra-te dos ensinamentos de teu Guru e ora ao Senhor da Compaixão. [Atualmente]... possuis o poder de ação milagrosa que não é fruto do Samadi, é algo que vem naturalmente de ti, um poder de natureza cármica... Podes chegar instantaneamente ao lugar que quiseres... Não deves desejar estes poderes, são poderes diversos de ilusão e metamorfoses... Nunca os desejes! [p 109-111]
O Espírito terá a clarividência do mundo que deixou para trás; verá lugares conhecidos, familiares, tudo em um estado de consciência semelhante ao sonho. A realidade percebida no Sidpa Bardo será mais ou menos feliz ou infeliz dependendo de como, a essa altura, o indivíduo reage ao saber que está morto para a "vida" da PERSONALIDADE passada. Os inconformados, angustiados, tristes, tomados de culpa, saudade ou medo, estes passarão enormes sofrimentos. O desapego das "coisas do mundo", tão enfatizado na doutrina e prática do budismo bem como na teologia cristã, é o único caminho caminho para um post mortem feliz. O Espírito, ao constatar sua "morte para o mundo", simplesmente aceita o fato e, compreendendo a verdadeira dimensão da própria existência [CONTÍNUA] não lamenta nada, não pensa em perdas, não fica preso a nenhum tipo de recordação. O Bardo Thödol descreve a situação do "defunto inconformado": ele é a alma penada, o espírito errante, o fantasma dos cemitérios.
[Em corpo de desejo o Espírito]... verá os lugares que lhe eram conhecidos na terra bem como seus familiares, como em sonho. Fala-lhes, mas eles não te respondem, Ao vê-los chorar... pensas: "Morri, que farei?" ...Sentirás profunda dor... Contudo esse sofrimento de nada te adiantará. Reza para teu Guru divino. Ora à Divindade Tutelar, o Compadecido. Não te farás bem sentir apego por teus parentes e amigos. Assim, não te apegues. Reza ao Senhor da Compaixão e não sentirás dor, terror ou horror... Sempre haverá uma luz cinzenta de crepúsculo... Permanecerás neste chamado Estado Intermediário por uma, duas, três, quatro... semanas, até o quadragésimo nono dia... Pessoas de péssimo carma produzem carmicamente rakshasas vorazes de carne, portando armas diversas, aos gritos de "Bate! Mata!" ... São aparições ilusórias. A chuva, a noite, neve, rajadas de vento... virão. Terrificado... desejarás fugir... sem prestar atenção para onde vai. O caminho será barrado por três precipícios... o branco, o negro e o vermelho. Não são precipícios verdadeiros. Trata-se, na verdade, da cólera, cobiça e ignorância... Descansarás um pouco... nas cabeceiras das pontes, nos templos, perto das estupas... Pensarás: "Ai de mim, o que fazer, estou morto?... Não podendo repousar [mais] ... és forçado a seguir adiante... Como alimentação, aquela que te foi aplicada poderá ser tomada... [Os moradores do Bardo vivem das essências etéreas invisíveis extraídas de alimento que lhes oferecido no plano humano ou extraindo energia dos componentes da natureza que os sustentam]... Tais são os errares do corpo-mental no Sidpa Bardo... Oprimido por uma grande dor, terá o pensamento: "O quê eu não daria para ter um corpo!" E pensando assim errarás... Repele este desejo de ter um novo corpo. Vencendo este confronto, obterá a libertação...[p 111-14]
V. O Julgamento O julgamento é um novo confronto. Desta vez, de natureza mais objetiva, é o momento de evocar os méritos e deméritos do Espírito, de suas ações na vida terrena. Uma figura de juiz, o Senhor da Morte, vai julgar a personalidade passada. Na alegoria, um Gênio Bom e um Gênio Mau ― que acompanham o Espírito em sua existência ― apresentam as virtudes e os vícios, os acertos e erros do Espírito. Não há meio de enganar o Senhor da Morte porque ele "vê" a Verdade no "Espelho da Carma" [p 115]. "A mentira de nada servirá". Os "carrascos-fúrias" estão prontos para aplicar o castigo ― ou seja, o Espírito chegou ao ponto de somente se purificar se sofrer castigos pelo que ele mesmo julga serem suas "culpas". Um dos carrascos-fúrias do Senhor da Morte amarrará uma corda em volta de teu pescoço e te arrastará. Cortará tua cabeça, arrancará teu coração, extrairá teus intestinos, devorará teu cérebro, beberá teu sangue, comerá tua carne, roerá teus ossos, mas serás incapaz de morrer. [As torturas são da própria consciência... o superego de Freud]; o espelho do carma é a memória... Reviverá mesmo estando teu corpo retalhado em pedaços... Não te deves amedrontar... Não mente e não teme o Senhor da Morte. Lembra que agora tem um corpo mental, incapaz de morrer, mesmo decapitado, mesmo decepado. Teu corpo é da natureza do vazio... Os senhores da Morte são tua própria alucinação. [p 115] Novamente, o Espírito assediado pelas horrendas visões deste julgamento, poderá se libertar através da impassibilidade. Uma serenidade que pode obtida pelo reconhecimento de todas as coisas como ilusão. Aqueles que, durante a vida praticaram a meditação e aprenderam a instaurar a completa quietude da mente, pela não-formação de pensamentos, estes poderão superar quaisquer alucinações. Os que nunca meditaram também podem alcançar a paz interior se concentrarem seu pensamento no Compadecido [Cristo, Khrisna, Buda].
VI. Os Seis Lokas O Espírito que não conseguiu a Libertação nas etapas anteriores passará, então, pelas experiências que vão determinar a situação de seu próximo renascimento. Para evitar renascer em mundos inferiores será necessária a instrução na doutrina do Thödol e a máxima atenção para com as percepções seguintes. O Espírito vai se defrontar com diferentes passagens, cada uma conduzindo a um Loka diferente. Apenas dois destes Lokas são recomendados pelo Livro dos Mortos. A partir desta fase, o Espírito, continua tendo visões do que se passa "entre os vivos", o quê acentua a tendência ao apego e, dependendo daquilo que percebe, fomentam-se sentimentos negativos, como a cólera e a autopiedade, o amor doloroso e a saudade em um processo que resultará em "renascimento no inferno" [mundo dos Rakshasas]. Se o Espírito não consegue superar seu apego aos bens materiais, se lamenta ver suas posses nas mãos de outros,"se ainda sente cólera contra seus sucessores" [p 117], este Espírito, dominado pela AVAREZA, perderá a chance de nascer em um "plano superior mais feliz e nascerá no inferno dos Rakshasas ou no mundo dos Pretas. O Thödol, ainda uma vez, recomenda o desapego, a renúncia em relação às posses e a tolerância em relação aos viventes que, porventura estejam se comportando de forma inadequada ou desrespeitosa. "Jamais crie pensamentos ímpios", o ideal é se concentrar em um sentimento de afeição tendo o pensamento repleto de humildade e fé. No estado intermediário, no Bardo, todo pensamento é forte a ponto de se tornar tangível. "Diante disso, não pense em coisas ruins... lembre-se de qualquer gesto de devoção... Manifesta uma pura afeição humilde fé... Ora ao Compadecido"... [p 119]. Esta é a última chance de evitar uma reencarnação. Falhando em todas as tentativas e despertar em si o Entendimento, o indivíduo verá, então, as luzes dos seis Lokas e o derradeiro recurso para obter a Libertação é conseguir fechar a porta da matriz" ou seja, a porta de cada um dos mundos inferiores onde pode acontecer o Renascimento. A matriz é o corpo-pai-mãe onde o Espírito será gestado e de onde nascerá. Quando aparece um dessas portas, o Ser pode sentir atração ou rejeição. O ideal é não sentir NADA. Os dois sentimentos devem ser rapidamente dissipados porque podem produzir a transferência imediata para um dos Lokas inferiores dos mais indesejados; mundos dos brutos [animal, vegetal ou mineral]; mundo dos Rakshasas; dos Pretas; o mundo dos Asuras. As melhores opções para quem vai reencarnar são o mundo dos Homens e o mundo dos Devas. É necessária a máxima atenção, concentração e serenidade nos próximos momentos porque serão decisivos para uma vida mais afortunada que a anterior.
VII. Renascimento Perdidas todas as chances de se tornar um Buda, um Iluminado, "se a porta das matrizes não foi fechada, está na hora de tomar um novo corpo. Aparecem, então, os sinais e características do local de renascimento. O livro descreve os mundos inferiores:
O que deve nascer como Asura avistará um floresta deliciosa, com círculos de fogo girando em direções opostas. ...Não entre aí. O que deve nascer entre os Pretas verá planícies desoladas, nuas, cavernas pouco profundas, clareiras na selva, florestas extensas... Nascendo como Preta, sofrerá as angústias variadas da fome e da sede... Não vá para lá. O que deve nascer no inferno ouvirá sons como lamentações e será constrangido a entrar lá de modo quase irresistível. Surgirão extensões tenebrosas, casas brancas e negras, buracos negros na terra... Indo para lá, entrará no Inferno, sofrendo as dores insuportáveis do calor e do frio... Não vá para esse meio. [p 127-128] Reconhecer os seis Lokas não parece ser uma tarefa difícil quando se tem as instruções do Livro dos Mortos. Entretanto, o processo torna-se complicado porque, se o Espírito chegou a este ponto é certo que está sofrendo as mais variadas perturbações das assombrosas visões que seu pensamento confuso produz. Mesmo agora, quando chega o momento de escolher sua nova morada, seus fantasmas não cessam de perturbá-lo: são as Fúrias que o perseguem incitando-o a procurar abrigo em qualquer lugar, mesmo que seja o pior dos mundos. Pensando que encontrou um esconderijo seguro, o Espírito acaba entrando em uma matriz indesejada, que pode surgir na forma de algum recanto acolhedor, como um lótus que se fecha quando se entra nele ou ainda grutas, buracos e ocos de árvores. Pensando ter encontrado um lugar seguro, na verdade, o indivíduo acaba aprisionado em matriz que não escolheu livremente; antes, foi dirigido para tal matriz pela força do mau carma e assim "assumirá um corpo miserável" onde passará a nova vida padecendo "sofrimentos variados".
VIII. Nascimento Supranormal e Nascimento no Germe O Thödol relaciona quatro espécies de nascimento: pelo ovo, pela matriz, supranormal e pelo calor e umidade. O nascimento supranormal é a transferência direta do princípio consciente de um loka [mundo] para outro. Deste modo o Espírito evoluído poderá nascer entre Budas ou Devas. O Espírito inferior, entre Asuras. Pelo calor e umidade é o nascimento no mundo vegetal. O nascimento pelo ovo e pela matriz são semelhantes e também chamados de "nascimento pelo germe" [p 124]. É pelo germe que o nascimento acontece no mundo Humano ou entre Pretas, ou entre Rakshasas. O nascimento pelo germe começa com a entrada do Espírito pela via etérea [em corpo sutil, radiante] no preciso momento em o espermatozóide e o óvulo se unem: "o Cognoscente" [Espírito] prova um período de alegria... vindo a desfalecer, em seguida, em estado de inconsciência"... Será encaixado na forma oval da circunstância embrionária... Do mesmo modo pode-se descer ao Inferno ou ao mundo dos espíritos infelizes [Pretas] [p 124].
Conclusões A morte é um assunto desagradável. No Ocidente, tornou-se quase proibido falar nisso. É uma "conversa mórbida". Entretanto, todos vão morrer; a conversa mórbida é um fato universal e inquestionável: o corpo humano é perecível. Resta saber se algo, em nós, é imperecível. O Livro dos Mortos Tibetano afirma o conhecimento de que que sim! Existe no ser humano uma porção que não morre: o Espírito, que é o Ego, percepção que se traduz em "Eu Sou". O Bardo Thödol, Livro do Estado Transitório entre Vida e Morte, é uma doutrina, um manual [no sentido de "livro"] e um ritual. Doutrina da ontologia do Humano [do SER Humano], manual para orientar as transições entre a vida material-Espiritual e a vida puramente Espiritual, ou seja, vida e morte e ritual facilitador desta transição entre o nascer e o morrer. A instrução dos sacerdotes e dos fiéis budistas tibetanos em geral, inclui o estudo do Bardo Thödol, como informação necessária, indispensável para que a continuidade da existência, no post mortem, possa transcorrer como experiência feliz tanto quanto possível. Considerando a limitação da vida terrena comparada à "eternidade" da existência no Universo, não é uma extravagância tibetana cuidar dessa existência não terrena com tanto zelo. O Ser existe mais tempo na condição metafísica, de Espírito [incondicionado... meditemos...], do quê na condição física de pessoa-personalidade humana-terrena. A experiência de nascer e viver na Terra, ser-estar em um corpo físico, pode obscurecer a tal ponto a auto-consciência do verdadeiro EU que, ao findar de uma vida, a partir do momento da morte, um Espírito pode entrar em profunda confusão mental e ao invés de desfrutar da condição de espírito livre, sofre, apegado, preso aos costumes e lembranças de um SER no espaço-tempo [uma personalidade] que não existe mais. O Bardo Thödol é o texto "religioso" mais amplo e objetivo, no sentido de científico, que trata da morte e de sua relação com a vida em detalhes preciosos. A instrução do Thödol chama a atenção para aspectos importantes da condição humana que acabam por ser completamente descuidados no dia-a-dia do homem contemporâneo. A preparação para o momento da morte enfatiza a importância dos pensamentos ao longo da vida. As "visões", as ilusões que atormentam o espírito em Bardo são muito semelhantes aos tormentos do mundo. Figuras monstruosas, cenas aterrorizantes são as personificações metafísicas da realidade orgânica e psíquica dos piores sentimentos humanos. O espírito em Bardo é o ser em sua natureza primária, que é MENTAL; e a mente é como um lago que o Bardo deve manter em impassível repouso. http://mahabaratha.vilabol.uol.com.br/pesquisa/04207bardothodol.htm
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